sábado, 30 de março de 2013

Bioshock Infinite: Uma experiência Inesquecível!

Quando uma pessoa diz que vídeo games não são cultura, que são meros brinquedos com fins limitados ao entretenimento ou, o mais famoso, "coisa de criança", eu não me ofendo por duas razões: eu tenho conhecimento da ignorância dessas pessoas e também porque entendo o que elas pensam.

É bom ressaltar que entender não quer dizer apoiar, eu entendo sua ignorância, mas não quer dizer que a apoio. Infelizmente, jogos não são vistos como algo que pode levar à construção de melhores pessoas, bagagem cultural ou até oportunidade de emprego respeitoso. O que me conforta é que nem a música, nem o livro e nem o cinema começaram com o requinte e dominância social que tem hoje, então, talvez, eu ainda viva em um mundo onde professores de escolas ou universidades peçam para os alunos terminar um game, visando o estudo da narrativa, personagens ou questões daquela temática que possam ser levadas à realidade. Graças aos céus  literalmente, que Bioshock Infinite deu um passo, enorme, para esse futuro.

Nada nesse mundo é perfeito ou, talvez, devêssemos questionar o que consideramos como algo absolutamente sem falhas, colocando essas questões de lado, Infinite é - ou chega perto de ser - perfeito. Eu nem ao menos sei por onde começar a falar!

Columbia, um sonho, uma cidade nas nuvens, um novo Éden para uma outra época. Assim como Rapture, Columbia é uma distopia, isto é, uma utopia que não sai do jeito planejado. Na cidade do fundo do oceano, o principal foco das críticas era a política, em Columbia, o alvo é mais salgado, a religião. Após ser diminuído a um pequeno ser feito apenas de sentimentos, vendo toda a beleza (breve) de Columbia, o jogador já é apresentado à figura de Comstock, um autoproclamado profeta que os habitantes de Columbia seguem com devoção fanática, logo ai e, claro, no decorrer da narrativa, já se pode perceber uma crítica ao fanatismo, não apenas em religiões, mas até mesmo por causas nobres.

Nesse mesmo quesito de nobreza, também somos apresentados ao grupo revolucionário Vox Populi (nome mais sugestivo, impossível), que pode ser visto como uma Patologia Social, usando a visão de Emilê Durkheim da Sociologia, ou seja, uma ameaça à ordem anteriormente criada por Comstock. Já  numa visão Marxista, esses ai estão preparados mesmo pra uma revolução armada pra derrubar o Capital (ou burguesia) de Columbia, mas isso ai já é entrar fundo demais na trama.

Além das críticas à sociedade e à religião, Bioshock toca no tema de mecânicas quânticas, formação de memórias e múltiplas realidades. Se você viajasse pra outra realidade, assumiria as memórias do seu eu dessa realidade? Quanto seria o dano que essa viagem causaria? É possível modificar o passado de forma que todas as realidades sejam modificadas? Você NUNCA viu algo nesse nível em um jogo.

O game, em momento algum, trata o jogador como uma criança que deve ser apontada pra onde vai ou no que deve atirar, você é simplesmente livre, é um caminho linear, mas com uma sensação de que se pode explorar toda Columbia. A beleza da cidade voadora é de paralisar o jogador no lugar, prova mais que conclusiva que não precisamos de visuais ultra realistas para se ter uma imersão completa, imersão essa que Infinite consegue com seus 10 primeiros minutos.

Talvez o ponto maior do game seja apenas uma personagem: Elizabeth. Além de ser parte central importantíssima da trama, a garota tem a inteligência artificial mais bem desenvolvida que um jogo pode te oferecer: ela não entra no seu caminho, sabe se esconder durante os tiroteios e consegue achar suprimentos para te ajudar nos momentos mais desesperados dos combates anárquicos e ainda acha uma graninha quando você e ela tem tempo de olhar o cenário, pelos deuses, ela tem até um andar e um olhar distintos dependendo da situação onde vocês se encontram. É bom lembrar que, mesmo que o game também critiqua o modo de viver racista e machista de 1912, Elizabeth é uma mulher forte, determinada e corajosa. Ela toma suas próprias decisões, não deixa Booker trata-la como frágil ou se impor como seu salvador e, como disse antes, sabe se virar muito bem sozinha.

Não sou nenhum sonhador idiota, pessoas não veem vídeo games, ou pessoas que sabem realmente aproveita-los com olhos de respeito. À essas pessoas, eu gostaria que pudessem acompanhar pelo menos a narrativa de Bioshock Infinite. Livros um dia foram itens que apenas ricos com tempo sobrando podiam ler, cinema um dia foi atividade apenas para os mais afortunados e a música já chegou a ser considerada coisa de vagabundo que estava fadado ao fracasso na vida, talvez, um dia, um jogo eletrônico possa ser respeitado dentro da sociedade. Pode não representar nada para muitos, mas se você abrir bem os olhos, pode ser um caminho para grupos de pessoas menos preconceituosas com coisas que elas não conhecem ou tem conhecimento mínimo.

Columbia pode, de fato, ter sido um presente vindo direto das nuvens.

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